Sinopse: John Forbes Nash Jr. [Russell Crowe] é um gênio matemático de pensamento não convencional. Após resolver, na década de 1950, um problema relacionado à teoria dos jogos – provando sua genialidade, que lhe renderia, em 1994, o Prêmio de Ciências Econômicas – Nash casa-se com Alicia Lopes-Harrison de Ladré [Jennifer Connelly] e passa a ser atormentado por delírios persecutórios e alucinações visuais. Dentre estas últimas, incluem o melhor amigo de faculdade imaginário, Charles [Paul Bettany], um agente da Inteligência Americana, William Parcher [Ed Harris] e a pequena sobrinha de Charles, Marcee [Vivien Cardone], que compõem todo um comportamento psicótico e potencialmente destrutivo por parte do matemático . Diagnosticado como esquizofrênico, e após várias internações, ele precisará usar de toda a sua racionalidade para distinguir o real do imaginário e voltar a ter uma vida normal.
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Todas as indicações e ganhos do Oscar para esse filme foram muito mais do que merecidos; na verdade, podemos dizer que todos os personagens foram brilhantemente interpretados, casando da melhor forma possível com o objetivo que desejava.
Para quem viu, sabe do que estou falando e, para quem não viu, não sabe o que está perdendo.
O filme é um drama fantástico e consegue expressar claramente o quadro de Esquizofrenia Paranoide do matemático John Forbes Nash Jr. e toda a trajetória em torno do transtorno, que muito complicaram a sua vida, até que começou a moldá-la à sua forma.
Evidentemente, que, como todo filme, existe um toque fantasioso, de forma que possa se tornar mais expressivo e, digamos, claro o que necessita ser passado. Com toda a certeza, o filme não teria o mesmo impacto, se tivesse se mantido dentro do escopo puro da realidade e, evidentemente, não teria fim se fossem colocar todos os aspectos, que envolveram a vida do matemático e que muito acreditavam se relacionar à sua doença.
Na verdade, Nash não via pessoas e conversava com elas, como ocorre no filme; tinha alucinações auditivas, que considerava como vozes extraterrestres a lhe mandar informações sobre seu trabalho. Dificilmente alguém possui alucinações visuais; é um quadro bastante infrequente e, muitas vezes, relaciona-se a tumores e não necessariamente transtornos psiquiátricos, sendo algo que precisa ser muito bem investigado. Mesmo assim, é possível, mas não se tratava de seu caso.
John Nash possuía um quadro de Esquizofrenia Paranoide mais do que clássico: alucinações auditivas, delírios persecutórios [acreditava que estava sendo perseguido por comunistas, fazendo parte deles todas as pessoas que usavam gravatas vermelhas] e de grandeza.
Enquanto as alucinações auditivas se mantinham mais para ele, dentro de seu trabalho, e com pouca exposição de sua parte, ainda era possível mascarar o seu transtorno, até que chegou a um ponto, no qual seus alunos já não compreendiam mais o que falava em sala de aula, além de dizer se tratar do “Imperador da Antártica”. Após esse episódio, ocorreu o afastamento de suas atividades e sua primeira internação.
Muitos foram os fatos ignorados sobre o verdadeiro John Nash, sendo um deles sua bissexualidade declarada. Em seu período de jovem adulto, ainda na faculdade, relacionou-se com outro colega, chegando a ser preso por ser considerado imoral. Na época, homossexualidade era crime e, inicialmente, foi algo considerado como parte de sua doença. Não foi a única vez que aconteceu, pois diversas foram as vezes, ao longo de sua vida, que se relacionou com homens; jamais houve negação de sua parte quanto à sua orientação sexual. É claro que hoje é sabido que não se trata de qualquer doença, porém esse foi um dos focos no período em que o transtorno começou a se manifestar.
Do mesmo modo, também foi omitido o fato de que John e Alicia não se encontravam mais casados desde 1964. No filme, mostra toda a trajetória dos dois, casados, e por maiores que fossem as dificuldades, permaneceram juntos até o final. Isso não ocorreu, na realidade.
A vida com John realmente era muito difícil por conta da doença, especialmente considerando, que, por diversas vezes, descontinuava o seu tratamento – devido aos efeitos sexuais negativos das medicações , que dificultavam ou impediam relações com sua esposa – e os sintomas psicóticos retornavam, muitas vezes de forma mais intensa do que anteriormente [o que é deixado bastante claro no filme]. Após determinada internação, John retornou à casa que dividia com Alicia, entretanto somente como inquilino, permanecendo os dois separados; o reatar do relacionamento ocorreu, apenas, na década de 90.
Durante esse período, o raciocínio de John Nash começou a tomar o lugar dos delírios, passando através de um curioso processo lógico, no qual compreendeu que as alucinações eram como “um desperdício sem esperança de esforço intelectual”. Dessa forma, sim, foi capaz de descontinuar por completo o uso das medicações e passar a “ignorar” as alucinações, que o perturbavam.
"Você ainda está aqui."
No filme, é mostrado de uma forma muito mais interessante e criativa, evidentemente, pois os delírios vívidos e visuais tornam a trama mais interessante e atraente a quem assiste. Os personagens foram, sim, muito bem trabalhados e, de fato, não era apenas uma voz que atormentava a cabeça de John Nash; tudo se encaixava de maneira lógica e calculada, de maneira que foi construído na sua cabeça todo um universo alternativo e nada condizente com a realidade.
Colocando a genialidade de John Nash de lado, o quadro de esquizofrenia é grave e complexo, no qual o indivíduo verdadeiramente crê no que pensa e no que está “acontecendo”. Ocorre, nesses casos, um comportamento egossintônico, onde a pessoa concorda com os seus pensamentos e sentimentos, tendo certeza de que aquilo é real; muito diferente ocorre, por exemplo, no Transtorno Obsessivo-Compulsivo [TOC], em que a pessoa tem pensamentos incoerentes e incontroláveis, porém sabe – ao menos considerável parte dos acometidos – que são invasivos e não condizem com a realidade.
O esquizofrênico de fato se insere em um mundo de fantasias, mas que se mostra indubitavelmente real a ele.
Por mais que queiramos demonstrar a realidade – e, por vezes, até perde-se o bom senso e a paciência para lidar com esses pacientes –, devemos ter a compreensão disso: ele jamais acreditará na “nossa” realidade.
Tente se ver em uma situação em que sua mãe diz, que uma banana é roxa com bolinhas cor-de-rosa. Você olha para a banana amarela – OBVIAMENTE AMARELA – e pensa no quão absurdo é o comentário que escutou. Assim funciona a realidade do esquizofrênico: ele vê algo, que é claramente lógico a ele, considerando absurdo quando alguém diz que não. Não é fingimento, não é algo de momento; é a realidade dele. Não tente mudar a forma como ele vê o mundo, pois não conseguirá. Há classificações diferenciadas de esquizofrenia, contudo, ainda assim, as suas convicções são imutáveis. Não é esse o objetivo em um tratamento; o que se espera é realizar contenção de sintomas, que são prejudiciais à pessoa e, muitas vezes, àquelas ao seu redor.
"É um problema. Isso é tudo o que é. É um problema sem solução."
Esse padrão de comportamento, totalmente imerso dentro do delírio, foi quebrado por Nash; foi feito algo que não é possível dentro do escopo da Psiquiatria. A capacidade de cortar o ciclo do delírio apenas com a lógica, assim como recuperar-se mesmo após tantos surtos e se medicamentos, faz com que a Psiquiatria o considere um milagre.
Não somente houve a sua recuperação, como veio a premiação do Nobel de Ciências Econômicas com uma de suas complexas equações, que, até hoje, é utilizada na Economia moderna. Mesmo com a indicação à premiação, Nash teve que ser avaliado por cientistas e psiquiatras, que lhe deram o aval de capacidade para receber tal premiação.
"Você a razão de eu ser... você é todas as minhas razões."
Uma vida dura, complicada, entretanto com uma caminhada extraordinária, que nunca anteriormente se viu, de lutas, delírio, desespero e recuperação.
Apenas como mais uma curiosidade, que também não foi explicitada no filme, seu filho com Alicia, em meados de sua adolescência, também desenvolveu o quadro de esquizofrenia.
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